sábado, 19 de janeiro de 2019




O homem e a mulher silentes discernem quando é conveniente falar e quando é conveniente calar. O critério fundamental para este discernimento é a caridade.
Pergunte-se, então, a si mesmo ou a si mesma: qual é a razão desse meu desejo de calar, neste momento particular da minha vida? Às vezes, este desejo pode responder a uma necessidade que tenho de estar a sós com Deus, de ouvir com mais clareza a sua voz, de deixar que a sua Palavra acaricie e renove meu coração, depois de um momento muito intenso de atividade. Se este for o caso, o ‘não querer falar’ parece plenamente justificado e, inclusive, pode ser uma manifestação de um chamado especial que Deus me faz neste momento particular....  
 Não quer falar!

Clique na imagem e leia a matéria inteira!

fonte: https://www.comshalom.org/nao-quero-falar/


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Ócio Criativo!

A ideia de ócio criativo foi proposta pelo professor e sociólogo italiano Domênico de Masi no meio da década de 90. Basicamente, o ócio criativo é uma maneira inovadora de definir o trabalho.
No livro O Ócio Criativo, Domênico demonstra como alegria e satisfação pessoal no dia a dia aumentam a criatividade, que por sua vez faz crescer o potencial de imaginação necessário a um melhor desempenho produtivo no trabalho. Ele diz:
"Existe um ócio alienante, que nos faz sentir vazios e inúteis. Mas existe também um outro ócio, que nos faz sentir livres e que é necessário à produção de ideias, assim como as ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade."
A grande maioria das pessoas confunde ócio com preguiça. A principal diferença é que o ócio pode gerar produtividade e ter alguma significância; a preguiça é insignificante por si só.
Ao contrário do que muitos acreditam, ócio criativo não significa não fazer nada. Por ócio criativo entende-se a união entre trabalho, estudo e lazer, de forma que alguém possa experimentar a riqueza gerada pelo trabalho, o conhecimento ocasionado pelo estudo e a alegria proporcionada pelo lazer.
Nessa era pós-industrial, afirma Domênico, é realmente este ócio criativo que deve assumir o papel de protagonista no trabalho e no tempo livre.
"Com trabalho, estudo e diversão, construiremos nossa identidade, não mais pelo que temos, mas através do que sabemos."
Trabalhar é necessário no intuito de gerar valor para organizações e indivíduos, só que esse valor, hoje, não está somente em poder, propriedades e no dinheiro, mas também na capacidade de inovação, criatividade e geração de conhecimento.
O conceito de ócio criativo foi desenvolvido por Domenico de Masi em resposta à sua insatisfação diante do modelo centrado na idolatria do trabalho e competitividade.
Pessoas que amam o que fazem costumam dizer que não precisam trabalhar, uma vez que elas não distinguem trabalho de lazer. Não é segredo: aqueles que são apaixonados por sua profissão e sentem prazer nas atividades trabalham com maior motivação e criatividade. Segundo ele:
"Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre, e distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo."
Antigamente, o trabalho consistia em gestos físicos e repetitivos; existia uma relação estreita entre a quantidade de trabalho e sua produção. Ou seja, a criatividade era contrária à produtividade. Mas isso mudou. Grande parte do trabalho de hoje é intelectual.
Infelizmente, a cultura empresarial de hoje ainda é organizada em respeito ao modelo antigo de linha de montagem, na qual se mede a produção pelo número de horas trabalhadas. Os trabalhadores precisam se submeter a intensas jornadas de trabalho para cumprir um expediente obrigatório, lancinante e cansativo. As pessoas trabalham mais tempo, mas seu pensamento não necessariamente acompanha o ritmo. Na verdade, a falta de tempo tornou-se uma desculpa para se refletir menos, e é justamente das reflexões que nascem boa parte das grandes ideias.
Em seu livro A Quinta Disciplina, Peter Senge fala sobre a importância da reflexão como parte das atividades rotineiras. Segundo o autor, nas empresas japonesas, quando uma pessoa está em silêncio em sua mesa parecendo não fazer nada, os colegas não interrompem, pois um trabalho muito importante está em curso: o pensamento. Diferentemente do que ocorre nas empresas ocidentais, nas quais a cultura enraizada demonstra que quando alguém está tentando desenvolver seu raciocínio, quieto, sentado em sua mesa, não está fazendo nada, esse é o momento em que ocorrem a maior parte das interrupções.
Essa pausa para reflexão é necessária não só no trabalho, mas durante todo o dia. É importante adotar uma postura questionadora e reflexiva. Henry Ford bem disse:
"Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele."
As pessoas precisam se libertar dos conceitos tradicionais de trabalho e diversão como antagônicos. Devem buscar um equilíbrio entre as relações profissionais e as necessidades pessoais e emocionais, que é a essência do conceito de ócio criativo. Não é fácil atingir essa harmonia nos dias atuais, embora seja humanamente possível, e deveras importante.
Em entrevista para o Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ), o professor e historiador Leandro Karnal afirmou:
"O ócio criativo é fundamental para se poder trabalhar. Cada vez mais nós estamos workaholics, cada vez mais imersos em atividades que exigem a nossa atenção imediata, prática, cronológica. Isto nos torna pessoas cada vez menos produtivas. É preciso o ócio criativo, no sentido da capacidade de pensar, ter ideias, estabelecer estratégias, dar passos seguintes, o que é diferente de se viver imerso nesse oceano de ações cotidianas."
O ócio criativo é muito interessante no sentido de tornar o trabalho mais feliz e menos estressante, possibilitando, assim, maior bem-estar e satisfação para o trabalhador, que se sentirá mais realizado, e consequentemente, mais produtivo. De acordo com Domênico:
"Adotando o ócio criativo, as empresas seriam mais criativas, mais produtivas e reduziriam as despesas. Os trabalhadores teriam mais tempo para a vida pessoal, revitalizariam seus relacionamentos com a família, com o bairro, com a cultura; alimentariam a própria criatividade."
Alguns argumentam que, com a falta de tempo na vida moderna, é muito difícil se dedicar ao ócio criativo. De fato, é um grande desafio. Mas a falta de tempo mão é um problema artificial.
Hoje em dia, vive-se mais e melhor, em contrapartida, inventa-se mais tecnologias e ferramentas para ganhar tempo, como se fosse escasso. Deveríamos ter mais tempo, e realmente temos, mas criamos uma "vida artificial", e o tempo se esvai. A expectativa de vida é maior, mas a vida não é mais aproveitada por conta disso.
Muitas pessoas só não pedem demissão de seus empregos medíocres por causa do salário que recebem, sem o qual não poderiam suprir diversas despesas e necessidades. Sim, ter uma renda é algo imprescindível, mesmo que precise se trabalhar de forma infeliz para consegui-lo. Mas dinheiro não traz felicidade, apenas a simula. E é isso que as pessoas infelizes com seu trabalho fazem: simulam uma condição de empregadas para ostentar seus ganhos e poder consumir, e muitas vezes se esquecem de que estão sendo, elas próprias, consumidas. O autor afirma:
"A empresa é um sistema que, com frequência, produz infelicidade e medo. E desperta raiva ver que hoje em dia a infelicidade e o medo poderiam ser eliminados e, em vez disso, continuam a existir sem motivos: não são úteis a produtividade, são nocivos. Assim, quando quero fazer com que uma regra da sociedade industrial sobreviva numa sociedade como a nossa, devo impô-la. Ou com a alienação, ou com a força física, ou ainda com a chantagem psicológica. E para fazer isso, é preciso ter um desprezo quase total pela vida pessoal, afetiva e familiar dos empregados."
Para o italiano, uma relação ideal de trabalho permite aos trabalhadores não apenas ganhar dinheiro, mas também satisfazer as necessidades de introspecção, amizade, amor, diversão, beleza e convivência.
É claro, existem também os casos de pessoas que são imensamente satisfeitas e realizadas com seu trabalho, mesmo sem exercer o ócio criativo. Entretanto, a grande maioria das pessoas que concorda com as ideias de Domenico de Masi sente uma necessidade real de modificar o modelo de vida imposto ao ocidente americanizado sob o impulso do pensamento empresarial: competitividade cruel, estresse existencial, prevalência de uns para a ruína de outros.
Domenico argumenta que, quando as empresas adotam o modelo de ócio criativo, ganham muito mais, e seus trabalhadores são mais felizes. Isso requer que elas diminuam a jornada de trabalho, promovam curtos períodos de tempo entre o expediente para reflexão e introspecção criativa, e ofereçam espaços de convivência para que as pessoas possam discutir suas ideias e pensamentos não necessariamente relacionados ao trabalho em si.
Bem, existe uma outra situação, ainda, em que as pessoas que misturam prazer, estudo e trabalho se sentem culpadas pelo excesso de liberdade, e por isso trabalham mais, o que as faz entrar num dilema entre trabalhar por culpa ou diversão. Mas Domenico de Masi nos lembra que o ócio criativo é um aprendizado e, como tal, deve ter um tempo de maturação. Segundo ele, o ócio criativo é uma arte que se aprende e se aperfeiçoa.
"É necessário aprender que o trabalho não é tudo na vida e que existem outros grandes valores: o estudo para produzir saber; a diversão para produzir alegria; o sexo para produzir prazer; a família para produzir solidariedade, etc."
O elogio ao ócio
Outro autor que faz alusão ao ócio como virtude é o filósofo inglês Bertrand Russell. Em seu livro O Elogio ao Ócio, Russell argumenta que muitos males estão sendo causados ao mundo moderno pela crença na virtude do trabalho, e que o caminho para a felicidade e prosperidade está em uma diminuição organizada do trabalho.
O filósofo inglês defende que a jornada de trabalho deveria ser reduzida para quatro horas diárias. Mas ele não pretende supor que o restante do tempo seja dedicado à preguiça, mas sim às necessidades emocionais e afetivas que fariam as quatro horas diárias parecerem mais do que o suficiente.
Existem projetos profissionais, a maioria deles, que demandam uma carga de trabalho bem maior do que quatro horas diárias. No entanto, Russell apresenta sua ideia em contrariedade ao modelo de Revolução Industrial vigente em sua época, que apregoava a máxima produtividade em detrimento do maior tempo possível que pudesse ser dedicado ao trabalho. No livro, ele diz:
"Se o assalariado comum trabalhasse quatro horas por dia, haveria bastante para todos, e não haveria desemprego, supondo-se uma quantidade bastante modesta de bom senso organizacional. Essa ideia choca as pessoas abastadas, que estão convencidas de que os pobres não saberiam o que fazer com tanto lazer."
Não só os pobres, mas também os ricos poderiam não saber o que fazer com tanta liberdade. De fato, o excesso de lazer pode acarretar em tédio e sensação de irrelevância. Em relação a isso, Russell responde:
"O uso judicioso do lazer, devo admitir, é produto da civilização e da educação. Um homem que toda a sua vida trabalhou longas horas irá se sentir entediado se ficar ocioso de repente. Mas, sem uma quantidade adequada de lazer, a pessoa fica privada de muitas coisas boas. Não há mais nenhum motivo pelo qual a maioria da população deva sofrer tal privação, e só um ascetismo tolo faz com que continuemos a insistir no excesso de trabalho quando não há mais necessidade. Mas o que acontecerá quando se chegar a situação em que o conforto seja acessível a todos sem a necessidade de tantas horas de trabalho?"
Em sua época, Russell defendeu que as pessoas, em geral, trabalhavam demais, e produziam coisas das quais não precisavam de fato. Atualmente, com a bolha de consumismo gigante na qual vivemos, sua ideia ainda faz sentido.
Russell acreditava que as empresas se apegam ao capitalismo pela crença de que esse é o único sistema que garante sua sobrevivência no mercado. Mas, como ele diz:
"Quando estas empresas prosperam e produzem algo útil, isto pode ser admitido. Mas, atualmente, ninguém negará que a maioria das empresas está falindo. Isto significa que uma grande quantidade de trabalho humano, que deveria ter sido devotado a produzir algo que pudesse ser aproveitado, foi gasto ao produzir máquinas que, quando produzidas, ficam ociosas e não beneficiam ninguém."
Segundo Russell, o lazer é essencial à civilização, mas o lazer para uns poucos somente é possível pelo trabalho de muitos. De acordo com ele, o trabalho é valioso não porque o trabalho seja bom, mas porque o lazer é bom.
Então, quer dizer que Russell aprova a ideia de que se viva em pleno lazer, e se consuma mais adotando esse estilo de vida liberal? Não. Segundo ele:
"Todo ser humano, por necessidade, consome, durante sua vida, uma certa quantidade de produtos do trabalho humano. Assumindo, como podemos, que o trabalho é como um todo desagradável, é injusto que um homem consuma mais do que produza. Até este ponto, o dever do trabalho deve ser admitido, mas somente até este ponto."
O problema é que a maioria das pessoas passa dos limites e dedica pelo menos metade de suas vidas produzindo o que lhes é excedente. Mesmo assim, alguns argumentam que trabalhar apenas quatro horas diárias criaria um certo vazio existencial, principalmente àqueles que não vivem para trabalhar, mas trabalham como único modo de viver. Quanto a isso, o autor explica:
"Quando sugiro que a jornada de trabalho deva ser reduzida para quatro horas, não quero dizer que todo o tempo restante seja gasto em frivolidade pura. Quero dizer que um dia de trabalho de quatro horas deveria ser suficiente para as necessidades e confortos elementares da vida, e que o resto de seu tempo deveria ser seu para usá-lo como achar conveniente."
É claro, usar o tempo conforme achar conveniente pode ser perigoso, já que as pessoas poderiam viver imersas em hábitos destrutivos. Nesse sentido, investir o tempo livre em trabalho funciona como um escudo contra atividades que degradam o corpo e a mente. Essa é uma razão para muitas pessoas preferirem trabalhar mais ao invés de se divertir mais. Porém, usar o tempo conforme achar conveniente pode ser também prazeroso, levando em conta que as pessoas saibam aproveitá-lo com inteligência.
Enfim, tanto a ideia de ócio criativo de Domênico de Masi quanto a da redução da jornada de trabalho de Bertrand Russell são vanguardistas, e passíveis de ser experimentadas por aqueles que podem, querem e estão dispostos a correr os riscos.
Referências bibliográficas:
MASI, Domenico de. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro. Sextante (2000).
RUSSELL, Bertrand. O Elogio ao Ócio. São Paulo. Sextante (2002).


fonte:http://lounge.obviousmag.org/ideias_de_guerrilha/2016/06/a-importancia-do-ocio-criativo.html