sábado, 28 de dezembro de 2013

O cansaço existencial: por que tudo me cansa?

Por que as coisas nos cansam tanto? Será que estamos cansados de viver, ou talvez cansados até de nós mesmos? Que tipo de cansaço nos pesa mais: o físico, o psicológico, o espiritual?
Chama a atenção como os grandes santos dormiam pouco, comiam pouco, trabalhavam muitas horas e dedicavam um longo tempo à oração. E estavam sempre alegres, inclusive quando seu corpo parecia destruído. Ficavam esgotados, mas não cansados de doar-se a Deus e aos outros. Neles se cumpria a máxima de São João da Cruz: “A alma que anda no amor não cansa nem se cansa”.
Os grandes santos estavam enamorados de Cristo, Esposo e Senhor, e se deixavam amar por Ele. Em suas vidas, sempre houve sofrimento, contrariedades, desprezos, traições. Mas eles nunca perderam a alegria. Sim, enamorados de Cristo, entregaram-se completamente.
Então, por que hoje, na Igreja, há tantas pessoas cansadas? O que acontece?
São múltiplos e muito variados os motivos do cansaço. O cansaço físico contínuo, sem o apoio do Espírito Santo, causa desgaste psicológico. Daí se passa à falta de motivação para orar, para estar diante do Senhor, para deixar-se tocar pela Palavra. Apaga-se a vida espiritual, a relação com o Amado e, por conseguinte, chega a exaustão espiritual, a preguiça.

cansaço psicológico pode vir pela desordem da vida, pela contínua mudança de horários, pela inconstância nas tarefas, pela bagunça ou falta de limpeza no quarto ou sala de trabalho, pela compensação na comida, pela falta de vontade em tudo.
Há cansaço pela forma de enfrentar os trabalhos, as contrariedades, os fracassos, os conflitos. Há cansaço quando o trabalho (escolar, manual, intelectual, familiar) é vivido com voluntarismo ou perfeccionismo; quando a pessoa estabelece metas acima das suas possibilidades, ou baseada na comparação ou inveja com relação aos resultados dos outros, ou com o desejo de superar todos. Isso esgota e causa insatisfação.
No cristão, o cansaço pode chegar quando não se confia no Senhor, quando não se coloca em suas mãos as próprias lutas, esperanças, problemas, fracassos, angústias; quando a pessoa se instala no ceticismo ou se apega a pequenas preocupações; quando se dá muita importância ao que é transitório, insignificante, efêmero.
cansaço pode aparecer na vida do cristão também quando falta humildade para pedir ajuda diante das dificuldades ou problemas, e a pessoa quer resolver tudo sozinha, fechando-se cada vez mais em si mesma, contando somente com suas forças, o que leva a um fracasso maior ainda.
Como enfrentar o cansaço físico e psicológico, para manter o tônus espiritual?
“Vinde a mim todos os que estão cansados, e eu os aliviarei” (cf. Mt 11, 28). A vida não os pertence. Tudo é de Deus. Dele viemos e a Ele voltaremos. Enquanto caminhamos nesta terra, Jesus Cristo está sempre ao nosso lado, sustentando, motivando, iluminado nossa existência.
Ele conhece nossas alegrias e tristezas, nossas esperanças e angústias, nossas luzes e sombras, nosso combate interior. O que Ele deseja é que contemos com Ele, que estejamos sempre na sua presença, que Ele habite no mais íntimo da nossa interioridade.
Ser cristão não nos poupa de lágrimas, mas dá sentido aos nossos sofrimentos. Ser discípulos de Jesus aumenta o “peso” da vida – segundo os critérios do mundo. É verdade. Mas o próprio Jesus nos disse: “Tomai o meu jugo”. E acrescentou: “Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (cf. Mt 11, 30).
O jugo é suave porque é sua amizade incondicional; e o peso é leve porque Ele o carrega conosco. Carregamos um tesouro em vasos de barro, para que se veja que uma força tão extraordinária vem de Deus, não de nós.
Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados acima das nossas forças; pelo contrário, com a tentação, encontraremos também a maneira de poder suportá-la (cf. 1 Cor 10, 13).


Artigo de Miguel Ángel Arribas, publicado originalmente pelo Seminário Conciliar de Madri
Fonte: Aleteia

Propósitos para 2014

Sinceramente, fico um pouco desanimada quanto leio textos, reflexões ou ouço discursos sobre as mudanças propostas para o novo ano que se inicia. Perder peso, entrar na academia, começar a namorar, largar aquele vício... Sai ano, entra ano, e as promessas se desfazem como as ondas do mar. Você já conseguiu cumprir algum desses propósitos que fez no Reveillon? Parece que o ser humano tem a necessidade de marcar etapas, segmentar a própria história, ter a oportunidade de um recomeço declarado. Mas, cada vez que promete e não dá seguimento, surge frustração e desânimo, e a esperança de mudar fica abalada. Quando atendo pessoas que estão lutando contra vícios, um dos trabalhos mais difíceis é recuperar a esperança da família. Depois de tantas promessas e tentativas não aproveitadas, é difícil acreditar que dessa vez pode realmente dar certo.
E porque somos assim? Porque fazemos propósitos e não conseguimos cumprir? Porque sonhamos com uma mudança mais rápida e andamos tão lentamente? Todos nós temos motivos para sermos como somos no hoje. Nossas histórias, nossos dons, nossa personalidade, nossos traumas, as curas que já permitimos Deus fazer em nós... Tudo isso nos construiu (pelo bem ou pelo mal) para sermos o que somos, para chegarmos onde estamos.
E por isso, mudar não é algo que pode vir de fora para dentro (como uma simples promessa do que gostaria de fazer). Mudar é um movimento interior, que exige uma autoavaliação verdadeira onde, vendo o que nos desagrada, somos motivados a buscar ser diferente. Estamos caminhando, em construção. Somos obras inacabadas, que podem permitir ou não que o oleiro nos molde com maior ou menor rapidez, de acordo com a dureza do nosso barro, de acordo com o apego que temos ao que já nos tornamos. Uma vez vi num programa de TV que o barro reaproveitado (quando se desfaz um vaso já trabalhado) é mais maleável do que quando foi modelado pela primeira vez. Mas, fico imaginando, como deve ser difícil para um vaso abrir mão do que já tem. Ele já foi amassado, modelado, queimado no fogo, pintado, tem função definida... E o oleiro o desfaz para começar do zero, e fazê-lo novo. Não é fácil se abrir à mudança, recomeçar. Tem que ser uma obra de Deus! Só há alegria em ser remodelado quando se confia que o Oleiro, em Sua perfeição, pode nos fazer melhor, pode extrair de nós mais do que já fizemos. É a confiança na experiência do Oleiro que faz com que o vaso se permita ser num primeiro momento destruído. Quando se conhece com quanto amor e zelo, com quanta perfeição e perseverança Aquele Oleiro costuma tratar do seu pobre barro, é possível se render ao novo. A esperança do salmista nos faça rezar junto com ele: “O Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, eterna é a vossa bondade: não abandoneis a obra de vossas mãos.” (Sl 137,8).
Acredito firmemente que a mudança do mundo só acontecerá se for um movimento interior, uma conversão pessoal ao verdadeiro Amor. Digo isso olhando para o mundo externo (política, corrupção, vícios, violência), mas também falando sobre nossas mudanças mais simples, mais cotidianas. Nossos propósitos só terão força e sentido quando forem uma resposta ao que Ele pede para mim. Temos grandes santos (doutores!) que nos ensinam isso. Santo Agostinho viveu uma longa e dolorosa luta para alcançar o equilíbrio sexual. Costuma-se atribuir a ele a frase: “Dai-me continência e castidade, mas não agora”. Depois de tantas tentativas, ele sentiu de Deus o chamado ao sacerdócio, e então, conseguiu alcançar o propósito de santidade que tanto queria. Santa Teresa D´Ávila, já como freira, viveu por muitos anos a luta para deixar as conversas fúteis e os presentes que recebia nos pátios do convento. Naquele tempo, os conventos eram locais frequentados pela alta sociedade como ponto de encontro e conversa. E ela só conseguiu se livrar desse hábito que lhe roubava tempo e atenção depois de uma oração, feita diante de Jesus crucificado. Ela perguntou: "Senhor, quem vos colocou aí?". E ouviu interiormente: "Foram tuas conversas no parlatório que me puseram aqui”.A mudança veio desse encontro com Deus.
Não quero lhe desanimar de fazer propósitos na virada de ano. Quero apenas abrir seus olhos para entender que eles são inúteis se não partirem do seu interior, se não brotarem do desejo de Deus para você. Qual mudança Deus pede de mim para 2014? Qual sonho Ele reservou para ser concretizado neste ano? Em qual projeto devo me empenhar? Qual é o presente que Ele reservou para mim? Que a força do Espírito Santo torne seus propósitos verdadeiros e cristãos, e lhe dê força para concretizá-los! Feliz 2014!

 
Roberta Lima
Coordenadora Estadual do Ministério de Música e Artes do Espírito Santo
Grupo de Oração Imaculada Mãe de Deus